Saudade, palavra triste!

Se ao menos o meu amor estivesse aqui
E eu pudesse ouvir o seu coração
Se ao menos mentisse ao meu lado
Estaria em minha cama... outra vez

A beleza no rio do meu canto
A beleza em tudo o que há no céu
Porém nada com certeza é mais bonito
Quando lembro dos olhos do meu bem
(Geraldo Azevedo)


Saudade, palavra triste!

Os domingos cheios de lembranças ainda me assombram, mesmo que por descuido ou espontaneidade. Eles ainda me cercam mesmo eu tentando fugir. Eles ainda me seguram e me lembram o quanto eu sinto a sua falta, quando eu tento me enganar dizendo que estou apaixonada por outro. E quando eu tento dar a volta por cima, eles ainda me puxam. Ah, os domingos sempre cheios de saudade, palavra triste. 

Difícil não saber mais como te encontrar. Um dos teus números ainda perambula na minha memória, mas alguma coisa me impede de te ouvir. Talvez eu não tenha mais jeito, mas eu ainda tenho o amor, o mesmo de antes. Ainda te vejo, mesmo que seja só nas minhas lembranças. Eu lembro teu sorriso para calar meu choro, e quando isso acontece eu rio, como se estivesse junto de ti. Por onde andas? Será que teus domingos também são cheios de mim? 


Às vezes chá, saudade e poesia

“As flores do jardim da nossa casa
Morreram todas de saudade de você
E as rosas que cobriam nossa estrada
Perderam a vontade de viver”
                                                           Roberto Carlos





A luz caía e aquele livro me aguardava ao lado do abajur que enfeitava a pequena sala. Nas primeiras páginas, vi que me esperava mais um romance daqueles com um final trágico, como os da vida real. Logo, me lembrei de mim e de você. Do nosso fim.


Ainda me pergunto se ele existiu, foi uma separação improvisada pela vida. Foi afastamento, apenas. Até o vento parecia contribuir com a distancia. Nosso amor se perdeu num temporal no outono frio de cinco anos atrás.


Por onde andam nossas fotografias? Devem estar no acumulado de papéis naquele armário velho que ainda ocupa um quarto no fundo da casa, que não é mais a mesma, a vida não é mais a mesma, eu não sou mais a mesma. Me pergunto se você ainda é, mas não sei a resposta.


Ainda lembro nossos planos para o futuro. Nossa casa teria um jardim florido e sempre tocaria Roberto. Nossos filhos, um casal,  brincariam na grama esperando você chegar do trabalho. Eu viveria apenas pra vocês. Mas já dizia Renato Russo, o futuro não é mais como era antigamente. Hoje ele é vazio em meio a sala de estar.

Tento ocupar tua ausência com a presença dos livros, e me lembro do que me aguarda na mão para lê-lo. Vou matar tua ausência, vendo como mais uma pessoa superou um amor inacabado, é mais fácil seguir exemplos do que criá-los. Seguir, a palavra mais adequada para o momento. Então depois do chá e da leitura eu vou seguir em frente. Espero que você já tenha feito isso, 
que sua casa esteja sendo planejada, que tenha um jardim florido e que seus filhos escutem o Roberto. Farei o mesmo.

Com amor, 

...

CARTA PARA ROSSI - A ALEGRIA ME DISSE ADEUS







Passava das 10h da manhã de uma sexta-feira nublada no Recife. O telejornal que vai ao ar às 11h45 já estava quase pronto. Entre as notícias destacadas, nenhuma delas remetia a tua partida, era cedo demais. Mas uma voz no rádio anunciava o fim da tua lida.


Por um minuto, rei, ficamos mudos de saudade.


Mas a tua grande alma de artista se fez presente até em tua morte. O clima frio, que cercava o dia, foi dando espaço ao caloroso adeus das multidões.


Logo nós, que dias anteriores comemoramos o teu avanço perante a doença, não queríamos nos convencer que a melhoria tinha sinônimo de despedida.


Mas rei, tu já tinhas sido eternizado, antes mesmo de partir. Um brega chique que ensinou o Brasil a viver um pouco em Paris. Mon amour, meu bem, ma femme.


Artista com trezentos corações, diplomado em engenharia, mas feito da música. E foi com isso que você me conquistou. 

Majestade unânime entre garçons, cornos e levianas. Adorador dos singelos e esquecidos personagens dos Brasis.

Coração do Recife e herança entre gerações.

Tu se fostes. A alegria me disse adeus. Eu não tive coragem de respondê-la, rei. Acredito na eternidade e nela tu és o bailinho que não há de acabar.

Descansa, Rossi!


Crônica de Sparks - O reencontro



Te vi de longe ao telefone no que seria mais um encontro anual desde que o verão do último ano da escola resolveu separar nossas vidas. 

Cinco anos se passaram, e naquele instante, ao teu lado, um ser novo me despertou curiosidade e admiração. Era o filho que a vida tinha me poupado. 

Num minuto tudo passou  em minha mente como um filme em preto e branco. De repente, eu tinha 15 anos e andava suspirando por você no corredor da escola.

Foram os poucos momentos mais intensos da minha vida. Mas o destino irônico e brincalhão decidiu que ali eram apenas os primeiros capítulos de mais um livro de Nicholas Sparks. A vida insistia no nosso fim.

Me vejo hoje como Amanda Collier, personagem principal da obra 'o melhor de mim'. Mas ela teve a oportunidade de voltar atrás e recuperar seu amor, mesmo passados 25 anos. Eu não terei a mesma sorte. Tudo mudou tão depressa.

Ali naquela reencontro casual, preferimos não nos cumprimentar, mas nos olhávamos como se mais ninguém existisse no mundo além de nós. 

Por amigos, soube que você falara que o tempo, ou até a distancia, foram gentis comigo. E que mesmo mudada, ainda tinha o mesmo sorriso aberto e ingênuo de tempos atrás. 

Eu, do outro lado, também me prostrara ao senhor tempo. Ele te deixara igual.  Mesmo com lágrimas nos olhos, eu agradecia por mais um ano que podia te reencontrar. 

Aquele toco de gente que não desgrudava do pai me relembrou os planos que tinha feito no passado. Sempre me dei tão bem com crianças. Quando ele soltou um pouco o pai para brincar, eu resolvi ficar frente a frente com quem imaginei, no passado, ser meu no presente. 

Me abaixei pra ficar a sua altura. Perguntei seu nome, lhe elogiei. Não demorei para tascar-lhe um beijo na bochecha. Seu pai de longe observava tudo. Achei aquele menino parecido conosco. Queria ver-lhe crescer, mas sei que a sua mãe fará isso perfeitamente. 

Saí dali, daquele encontro, decidida a aceitar que não havia mais remendas que unissem nossas vidas. Aquela criança era a maior prova disso. 

Que ela seja feliz!

...